Quando terminou a instrução primária o avô quis oferecer-lhe um relógio como fizera a todos os netos. Veio de lá o Sr. Silvestre, numa tarde muito quente de Julho, na sua carrinha de caixeiro viajante relojoeiro e ourives.
Que deixasse a menina escolher o modelo que mais lhe agradasse, disse o avô ao Sr. Silvestre. Porque este relógio lhe havia de fazer companhia no pulso por muitos e longos anos. A Mariana experimentou um, experimentou dois e ao terceiro lá se decidiu: era aquele! Um relógio discreto com a braçadeira preta e o mostrador quadrado.
Então era hora de lhe dar corda. O Sr. Silvestre deu os primeiros safanões ao mecanismo, mostrando orgulhoso os ponteiros a rodar e pedindo silêncio aos primeiros tiquetaques. Bastaria repetir o gesto de rodar a coroa no sentido horário uma vez por dia e teria ali um parceiro para toda a vida.
A Mariana aquiesceu e fez menção de se afastar. O avô, embevecido pela maturidade da netinha, deu um passo para a seguir. De imediato, o Sr. Silvestre mudou de cara e interpelou o avô:
- Ó Sr. Manuel, e então quem me paga? Vá lá que ainda lhe desconto 300 mérreis, que mais não posso tirar...
- Quem trabalha de graça é o relógio
Sem comentários:
Enviar um comentário