Provérbios Provados noutras casas:

quinta-feira, 7 de março de 2024

Provérbio provado desnorteado

Ao fim de alguns meses a rondar cardumes sem que se aferissem nas redes mais peixes, os colegas pescadores do Amor do Sado alcunharam-no de Zé Vadio.

Não é que o Zé chegasse atrasado à faina, embora as olheiras denunciassem falta de sono. Também não é que fosse mandrião, pois largava -se ao trabalho com desenvoltura.

O problema do José Domingues era notoriamente uma lacuna na capacidade de concentração. Não se ocupava da mesma tarefa mais do que um minuto seguido, deambulando amiúde pelo convés com uma expressão ausente. Largava o impermeável e as galochas em qualquer buraco e depois acabava por andar a malta toda em busca dos seus paramentos. Punha sal no café e açúcar no arroz. O Zé Vadio era mais do que apenas distraído: era a desgraça total.

Tinha o hábito de debruçar o tronco na borda do barco anunciando alto e bom som: Até lhes vejo as espinhas! E então corria da proa à ré com o indicador molhado de saliva para sentir o vento. Para o Zé nunca estava de feição: a nortada fazia os peixes afundar, o suão mudava-lhes a rota. O vento tinha as costas largas. Tão largas como o mar e o horizonte.


- Quem navega sem destino nenhum vento é favorável 

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