Não me é natural que deixe castrar a criatividade
Que faça de cada silêncio um altar sagrado
Que me permita frustrar cada nova liberdade
Por mais gregária vem amiúde uma necessidade
De escapar à matilha que ladra mais alto
E costuma roer calcanhares em grupo
Engolindo sem mastigar e dessa forma sem pensar
Dispenso a vistude que traja como fotocópia
Quem só repete e assim para outros remete
Demitindo-se à menor escassez de alvos a abater
Na vida comum há bom senso
Ou é da boa vida o senso comum?
Nada disto me poderá interessar
Visto que nenhuma vida é boa ou comum
Ou seria o tédio o único modo de existir
Quero a imprevisibilidade de várias maneiras
Com conta e peso mas sem medida
Jamais me morre o sonho e quando muito
Vou só ali morrer e já venho
Ressuscitei mais vezes do que Cristo ao terceiro dia
Entre desmaios tento fazer desaparecer do sudário
As marcas da vida mais recente
Levanto-me e ando pelo meu próprio pé
Envolta no lençol mais branco do que branco o recomeço
Porque a coisa óbvia sempre me foi pouca coisa
Que não me cabe nem na cova de um dente