Chegara à empresa no dia seguinte ao da despedida do antigo director que se havia reformado. Os fatos de bom corte e o penteado impecável chamaram logo à atenção: davam-lhe um ar responsável, o que contribuía para disfarçar a tenra idade.
Com a chegada do actual director iniciou-se uma feroz dança de cadeiras e os distintos pretendentes sos ditos assentos puseram-se de imediato ao carro e em guarda. Apenas os mangas de alpaca se limitaram a encolher os ombros, não excessivamente preocupados com mudanças futuras.
O David Pinheiro era um dos colaboradores mais ambiciosos. A hipótese de sucesso trazia-o embriagado. Não era popular entre os colegas: ele próprio preferia ser criticado do que consolado. Não escondia que queria poleiro e, como tal, foi o primeiro a marcar uma reunião com o novo director tão novo. Estava no papo, cuidava o David. Armado em raposa velha, estava apostado em dividir para reinar.
Entrou no gabinete, poliu devidamente a auto-estima do director, lançando de seguida dois ou três comentários suspeitosos. Coisas pouco concretas que tinham muito de fantasia. O director mordeu o osso mas não chegou a ter a pulga atrás da orelha. Limitou-se apenas a perguntar:
- Qual a percentagem de credibilidade no que me está a dizer?
O David Pinheiro fez um ar misterioso e lançou um braço ao ar, como que a convocar o Altíssimo a testemunhar:
- Isso é o que o senhor doutor vai ter de averiguar...
A condescendência da resposta enfureceu o director que quase perdia a calma enquanto foi dizendo:
- Senhor David Pinheiro, a sua conduta ao lançar suspeições sobre os seus colegas é muito pouco louvável. Vou contar-lhe uma coisa que aprendi com o meu bisavô Roberto:
- Quem contigo fala mal dos outros com os outros fala mal de ti
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