Ao fim do quintal, vizinha ao pombal, ficava a capoeira. Todos os dias, o Amadeu lhe fazia uma visita, habituado que estava a contar com os ovos no cu das galinhas. Eram reunidos à meia-dúzia em caixas de cartão para serem posteriormente vendidos.
Mas acontecia por vezes ser a procura maior do que a oferta: nas épocas festivas, por exemplo, as parvas das galinhas parece que faziam de propósito para atrasar ou limitar a postura. As clientes sentiam-se defraudadas, pois claro, com as tartes e tortas adiadas. E ainda vinham a ralhar quando passavam o portão.
Numa ocasião, estava nesse mesmo portão o Alcindo à sua espera para umas voltinhas de caça: ver os trilhos dos javalis, verificar armadilhas, contar ninhos, essas coisas. Vendo as vizinhas que se retiravam contrariadas e de cestos vazios, atirou-lhe mal o viu assomar:
- Ó Amadeu, homem de Deus, então tu andas a prometer ovos que ainda não foram cagados? Tu vê lá, não prepares a arca frigorífica porque o mais certo mesmo é regressarmos hoje de mãos a abanar. E, assim como não vendes melancias no Inverno nem castanhas na Primavera,...
- Não vendas a pele do urso antes de o matar
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