RESTELO
Os velhos do Restelo moram em toda a parte
O Restelo que os pariu logo os libertou para o mundo
E assim foram pelas ruas num coro bafiento a jugular
Cantando Ai Jesus num fado agitado
Os velhos pregam em muitas freguesias sem nunca sair de si
Sem nunca ver o lado de fora nem o avesso das questões
O exterior é assim um prolongamento do seu interior
Quando encontram um palanque os velhos trepam
É um degrau que em elevando se presta ao clamor
Uma superfície que imprime músculo às afirmações
Um feito tão impotente que ninguém pelo feito dá
Um grupo de velhos tão sós que apenas preconizam solidão
Assegurando que a liberdade não desafoga
Porque há ainda tanto caminho e tantas grades no meio
Por mais que falte caminho faltará sempre bastante
Os velhos fazem da constante preocupação
Da vistoria das normas e da filosofia de bolso
A melhor desculpa para libertar a sua insatisfação
Em que cada metro quadrado de egoísmo
É muito mais ismo e se propaga a esmo
Desta forma antevemos a sua chegada ao Purgatório
Quando confessam que o Restelo lhes corre nas veias
São imediatamente perdoados e alguns condecorados
A desconfiança afinal não é um pecado capital
Apesar de a falta de esperança poder matar ou roubar
A fraternidade que no Restelo é um gesto mais tímido
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