Começou a fumar ainda era praticamente uma criança. E de cada vez que acendia um cigarro despedia-se mais um pouco da infância porque fumar era coisa de gente grande e ele tinha pressa de se fazer valer. Com o hábito tão cedo arraigado, nunca fez por isso esforço para largar o vício: fumou toda a vida como uma chaminé. Já adulto, adoptou depois as cigarrilhas, os charutos e até o cachimbo para assim continuar a crescer: davam-lhe o ar pensativo e distante que queria projectar de si mesmo. Fumar um charuto, por exemplo, era um acto de tal modo solene que se sentia elevar uns degraus em relação aos outros fumadores dos maços tradicionais. Ia experimentando várias marcas diferentes que adquiriam mais ou menos importância conforme o seu estado de espírito: numas vezes escolhia um tabaco mais forte e intenso, noutras porém seleccionava um que fosse mais fraco e não lhe arranhasse a garganta. Nessas experiências, a surpresa não era impossível quando encontrava determinado blend que se lhe adequava tremendamente ao paladar.
Celibatário por opção, era de igual forma exigente e muito crítico em relação às mulheres às quais decidia conceder atenção. Tinham também de lhe transmitir a mesma sensação de crescimento. De cada vez que se preparava para um novo encontro, revia mentalmente as suas prioridades, reservando no entanto um espacinho para o trabalho do acaso.
- O charuto e a mulher estão no acertar e não no escolher
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