Patrão é patrão, empregado é empregado. E até podem ter uma relação de amizade e mútuo entendimento, que não deixa de ser uma relação desigual. Partindo deste pressuposto, vou contar a história do Justino e do Emanuel.
O doutor Justino é um líder nato: um metro e oitenta e noventa quilos de autoridade. Uma autoridade espaçosa, portanto. Gosta de mandar em vez de fazer, embora se quisesse pudesse realizar o trabalho, pois tem inúmeras capacidades e certamente não passaria fome se tivesse de arregaçar as mangas. Tem um QI portentoso, um raciocínio lógico e rápido, e é capaz de discutir sobre os mais variados assuntos, mesmo aqueles que só conhece superficialmente. Como defeitos, pode apontar-se-lhe a tendência para ser autoritário, possessivo e um tanto egocêntrico, assim como uma manifesta necessidade de controlar os acontecimentos. Se calhar não é assim tão frio e calculista como aparenta, mas como é pouco comunicativo, raramente demonstra afecto e compaixão. No entanto, gosta de ser elogiado e admirado.
O Emanuel é baixinho e franzino, passa facilmente despercebido. Admira o patrão e devota-lhe até uma admiração um pouco cega: o que o doutor diz é lei. É cumpridor, mas não cultiva a largueza de espírito nem a concentração e habita num espírito acanhado. Essa preguiça mental acaba por conduzi-lo a um afã de chegar aos objectivos pelo caminho mais rápido, que às vezes é tortuoso. Apesar deste aparente enfoque, dispersa-se com facilidade, acabando por deixar muitas das tarefas a meio.
Hoje de tarde, o doutor Justino perdeu um cliente importante. Quando lhe foi apresentar um novo projecto, o dito cliente, embora já antigo e até então fidelíssimo, pura e simplesmente dispensou-o. Regressou à empresa desalentado: ombros caídos e sobrolho carregado. Quando os seus desejos não se realizam ou são frustrados, a pressão arterial dispara e as têmporas latejam de tal forma que parecem ir explodir a qualquer momento. Assim foi hoje. Atravessou o corredor, olhou para o Emanuel como se ele fosse invisível, e foi enfiar-se no seu gabinete a praguezar com as paredes. Passada uma interminável hora, já perto da hora de saída, abriu a porta de rompante e soprou feroz:
- Emanuel, ó Emanuel! Faz-me já um levantamento de todos os projectos que tivemos com a Óptica Olho Vivo. Orçamentos, prospecções e resultados das campanhas. Tudinho, ouviste bem? Quero que vás ao pormenor e não te ponhas a questionar as razões: para pensar estou cá eu! E olha, Emanuel, é uma tarefa para ontem!
- Manda quem pode, obedece quem tem juízo
sábado, 30 de dezembro de 2017
Provérbio provado do patrão e do empregado
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário