Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Provérbio provado de um engenheiro inventado

Há muito muito tempo trabalhei numa agência de viagens especializada em mergulho subaquático, um dos tantos trabalhos inusitados que tive enquanto não atinava com a minha verdadeira vocação. Invejo um pouco as pessoas que tiveram sempre rumo: à minha irmã, por exemplo, desde a mais tenra infância lhe escutei a vontade de vir a ser professora primária, profissão que efectivamente exerce.
Fui arregimentada para a tarefa num evento de marketing desportivo por um dos patrões da mencionada agência, um francês chauvinista, como o são um pouco todos os franceses, que tratava os portugueses com uma condescendência irritante - até os seus pares, até os seus clientes. Manifestamente ter-me-á contratado por saber que me poderia pagar tuta e meia e até moldar-me às suas exigências de rigor laboral, mas a coisa não lhe terá corrido muito bem...
Apesar de não ir muito à bola com o francês, quando conheci o seu sócio português as minhas expectativas de poder vir a gostar daquela agência defraudaram-se ainda mais. Era um fulano bem parecido, imerso em tiques de beto no trajar e no linguajar. Tinha inclusive um certo esgar de desprezo na forma como colocava os lábios que se destinava a manter a distância dos que não eram da sua pretensa estirpe. Tratava-me com tamanha altivez que eu chegava a ter dó da sua desmesurada idiotice.
Percebi ao cabo de poucos dias a que distintas famílias se gabava de pertencer: a mãe dele quando telefonava pedia para falar com o Doutor Paulo. A cagança era, pois, genética.
O pior é que o dito Doutor não sabia alinhavar o sujeito com o predicado e confundia a segunda pessoa do singular com a do plural. Perguntava aqui à miúda como se escrevia isto e aqueloutro, confiante de que os calhamaços do Lobo Antunes que eu transportava me haviam de estar ensinando alguma coisa, já que para agente de viagens não parecia acusar muita habilidade. Tenho ideia que seria engenheiro, pelo menos uns relatórios científicos terá escrito ou terão escrito por ele. Mas agora que penso nisso, nunca falava nos tempos de faculdade... Será que a mãezinha tinha uma cunha na farinha Amparo?
Os dois sócios andavam permanentemente de candeias às avessas, não se suportando mutuamente - nem com molho de tomate! - e não concordando em coisa alguma: o ambiente era de cortar à faca. Por isso, quando algum deles se ausentava aplicava-se sumamente a máxima:

- Patrão fora, dia santo na loja

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