O Augusto Pinto nascera na Cidade dos Estudantes e tinha o natural desejo de vir a envergar uma capa negra. Jovem íntegro e cordial, cedo granjeou a simpatia dos colegas que nele confiaram para servir de porta-voz dos estudantes junto dos professores catedráticos.
O Augusto possuía em larga escala a independência de pensamento, a iniciativa e a ponderação. Era também um perfeccionista, conquanto não fosse arredio a novas ideias e amizades. Quem o quisesse ver feliz, era falar-lhe dos alimentos do espírito: de religião, da filosofia pura e simples e das áreas do ensino. Era assim atraído pelas coisas filosóficas e abstractas e apreciava sobremaneira que o procurassem para o consultar sobre essas temáticas.
Companheiro dedicado, quando se separou da primeira namorada - a bela Diana, que usava saias até aos pés para disfarçar as pernas finas como canivetes -, ou melhor: a primeira namorada se separou dele, teve dificuldade em se adaptar a uma nova relação. Teve doiis ou três casos esporádicos com colegas, mas nenhuma o cativou verdadeiramente e assim Augusto começou a acreditar que só casaria depois dos trinta anos, depois de namorar muito e conhecer em pleno as características da futura parceira.
Terminou o curso, iniciou a sua vida de professor de filosofia e enredou-se em estudos académicos, no doutoramento e após no pós-doutoramento. Foi perdendo o contacto com os colegas da faculdade, declinando convites para jantares e deixando de se cruzar e conhecer mulheres. Chegou então a uma altura, já a caminho dos quarenta, em que era um homem só a perder a esperança de deixar descendência e por quem os sobrinhos adolescentes não nutriam ternura. Praticamente não saía de casa, o nosso Augusto, e como diz e bem o vulgo:
- Quem não é visto não é lembrado
sábado, 16 de maio de 2020
Provérbio provado não recordado
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário