Provérbios Provados noutras casas:

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Provérbio forasteiro

A Isaura só tinha vinte anos mas já muitas histórias para contar. E se a Isaura gostava de contar histórias; no café, no supermercado, no parque, onde houvesse um interlocutor, lá estava ela desejosa de dar à língua! Até nas lojas dos chineses... punha-se a falar, a falar, marimbando-se que não entendessem patavina do que dizia.
A Isaura engordava as estatísticas do abandono escolar. No fundo não gostava de estudar, mas contava a todos da sua má sorte de ter uma família grande; a mãe casara em segundas núpcias e esbanjara gravidezes: parira três filhos uns a seguir aos outros. O mais novo tinha só dois anos e o mais velho sete. Eram a cara de um o focinho do outro, e por sua vez iguais à Isaura e à mãe: ali não se jogara à adivinha genética. A Isaura tomava conta dos irmãos e fazia-se acompanhar por eles para todo o lado num grande alarido; a mãe tinha dois trabalhos, saía muito cedo e regressava mais tarde ainda.
A Isaura fizera um breve interregno na sua tarefa de ama seca; conquanto fosse muito nova, casara-se num impulso com um pacóvio que lhe achou graça. Mas não foi a mudança de vida que lhe era devida; fartou-se rápido das exigências dele, dos seus cozinhados predilectos, da muita roupa para engomar e meias rotas para remendar. Voltou num instantinho para a casa da mãe: assim como assim preferia ser criada dos irmãos sobre quem sempre tinha algum ascendente. Família é família.
Todavia, a Isaura andava desejosa de dar um novo rumo à vida e, depois de um parlamentar com uma amiga, desatou a responder a anúncios que pediam meninas para cuidar de crianças no estrangeiro. Não cabia em si de contente: iria viajar bastante, conhecer pessoas novas e ganhar muito dinheiro, mas, pobre Isaura, na sua pouca esperteza, não vislumbrava que seria seria apenas uma criada duma família longínqua, confinada a uma casa estranha de onde não poderia sair quando queria para passear.
Esperou ansiosa que lhe respondessem de Inglaterra e da Holanda mas, como tardavam as novas e o seu frenesim era imenso, acabou por ir parar à Suiça para trabalhar numa fábrica de congelados. Isaura tiritava, lá dentro e lá fora. Era inquilina de um casal de portugueses afectuosos que, sorte a sua, achavam muita piada ao seu tagarelar. Sentia enormes saudades do seu país soalheiro, principalmente dos seus três pequenitos irmãos. E afoita para travar novas amizades como do pão para a boca, tornou-se íntima de um vizinho suíço que lhe punha a tocar os seus discos de vinil.

- Mais vale um vizinho à mão do que ao longe o nosso irmão

Sem comentários: