Joana ficara viúva muito nova. Ricardo deixara-a precocemente, mas de mealheiro cheio, sem preocupações de ganha pão. Durante quase dez anos não quis ninguém e só a solidão lhe fazia companhia na almofada. Sonhava tanto com uma relação de tal forma perfeita que achou que nunca mais teria outro marido.
Imaginou que só um grande amor a salvaria de si própria, até que chegou aquela manhã em que descobriu com surpresa que já se tinha encontrado. O mais engraçado é que não acontecera nada: nenhum parágrafo de livro ou diálogo de filme daqueles que pareciam talhados de foice para ela, tão pouco um encontro mais especial onde o mundo tivesse parado em redor de uma mesa de café. Foi assim de repente: o seu pensamento mudou e passou a ser uma mulher desembaraçada, solta, leve. Guardou a régua e o esquadro com que costumava medir os seus passos numa gaveta e deitou fora a chave.
Agora que desistira de procurar o amor, era o amor que tentava encontrá-la a todo o custo. Até o sexo deixou de ser exaustão e obrigação, tentativa trôpega de agradar; tornou-se numa libertação quando perdeu a preocupação de contar os orgasmos, os seus e os do outro.
Os candidatos acotovelavam-se e Joana via-se pela primeira vez na vida com excesso de oferta: não dava vazão. Se era pelos seus lindos olhos ou pela conta choruda no banco, só havia uma forma de descobrir...
- Viúva rica solteira não fica
quinta-feira, 28 de junho de 2018
Provérbio provado enviuvado
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário