Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Provérbio provado do amor duplicado

Continuavam a juntar-se no primeiro Domingo de cada mês, embora fosse sempre um pouco complicado gerir o mau humor dos respectivos maridos que por uma tarde lá acediam a ficar a ajudar os putos com os trabalhos de casa. O da Solange era o mais compreensivo e transferia a prole para casa dos sogros, deixando-lhes a mesa da sala, liberta de cadernos, guaches e brinquedos, que se vestia de uma toalha bordada de enxoval e do serviço já incompleto que tinha pertencido à avó dela. Por causa disso, e porque fosse uma criatura saudosista, a Solange contava sempre alguma história da aldeia da sua infância. Iam sorvendo o líquido em goles lentos, mastigando biscoitos com ar pensativo, escutando-se umas às outras as habituais agruras: os desmandos da cabra da cunhada da Cláudia, a hipertensão, diabetes e artroses da Sandra, as más notas na escola dos miúdos da Leonor.
Eis que enfim a Luísa lá chegava, atrasada como sempre, desbocada como sempre. O chá já tinha arrefecido, a conversa das amigas também. Todas despertavam, vivazes como molas, e emprestavam os ouvidos às sempre insólitas aventuras que ela relatava. Divorciada há vários anos do pinguço do primeiro marido, no último Domingo a Luísa surgira particularmente excitada. Primeiro porque tinha batido com a carrinha no dia anterior e tivera uma altercação com o outro condutor. Depois - e aqui é que vinha a novidade sumarenta - porque o já antecipado flirt com o tal professor de Pilates, uma brasa!, um corpão!, chegara a vias de facto e resultara numa relação tórrida que a trazia num incêndio só.
- O problema é o Gonçalo - dizia a Luísa, meio envergonhada meio divertida - é que também gosto dele, tão fofinho, tão certinho, regrado e atinado. A água e o vinho, meninas!
Fez-se um silêncio constrangedor: as amigas de semblante incriminatório, intimamente invejosas da vida amorosa superlativa da Luísa. Foi a Solange que quebrou o gelo:
- Luísa, sua devassa!, assim não dá. Tens de optar, amiga... A minha avó é que costumava dizer - já há bocado falei dela quando a Leonor lhe partiu mais uma chávena  do serviço, a desastrada! - ela é que costumava dizer que

- Mulher que a dois ama, ambos engana

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