Cinquenta por cento de desconto em cartão
É principalmente a curiosidade que me impele
Mão batoteira empurrando para o dia seguinte
Uma fome de mais vida é que me faz viver demais
Sem mapa nem norte é a minha estrada
O passado será mais cedo do que diz o calendário
O meu amanhã já chegou atrasado ao que vem depois
Dou um passo e outro mais para lá de mim
À procura de altura com asas emprestadas
Nessa pressa o sono é o tempo que roubo à morte
O sonho um pecado sem penitência
Há apenas esta estrofe incerta como sombra
Este verso impuro ainda por descobrir
Acumulando pontos num quotidiano (a)normal
A vida não dá desconto a quem ousa ser mais do que si mesmo
Assim vou construindo castelos inconstantes nas nuvens
Oxalá se vendessem tijolos brancos lá no céu
segunda-feira, 30 de abril de 2018
Provérbio provado num verso branco - XXXV
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLXIV
A vida é um jogo de espelhos
Que engorda ou emagrece
Tão cedo chegamos a velhos
No futuro que cada um tece
Quase no fim chegaremos
Mais perto do que na partida
E os olhos enfim abriremos
Ao que chamam verdade da vida
O ontem já está terminado
Lutou-se até ao sol posto
De manhã o ar é pesado
Desponta na voz novo rosto
Um rio há que atravessar
Que nos leva até ao que somos
E não serve de nada adiar
Nem negar aquilo que fomos
Naquela infinita cidade
Nenhum cais é um abrigo
Que proteja da tempestade
Como faz qualquer bom amigo
Para cada sorriso mais triste
Há quem nos arranque gargalhada
Que vivamos alegres insiste
Sempre de cabeça levantada
Não estamos afinal tão sozinhos
Uns mais sérios outros brincalhões
Que connosco percorrem caminhos
Os amigos são para as ocasiões
Que engorda ou emagrece
Tão cedo chegamos a velhos
No futuro que cada um tece
Quase no fim chegaremos
Mais perto do que na partida
E os olhos enfim abriremos
Ao que chamam verdade da vida
O ontem já está terminado
Lutou-se até ao sol posto
De manhã o ar é pesado
Desponta na voz novo rosto
Um rio há que atravessar
Que nos leva até ao que somos
E não serve de nada adiar
Nem negar aquilo que fomos
Naquela infinita cidade
Nenhum cais é um abrigo
Que proteja da tempestade
Como faz qualquer bom amigo
Para cada sorriso mais triste
Há quem nos arranque gargalhada
Que vivamos alegres insiste
Sempre de cabeça levantada
Não estamos afinal tão sozinhos
Uns mais sérios outros brincalhões
Que connosco percorrem caminhos
Os amigos são para as ocasiões
Quem prova provérbios gosta de aliterações
segunda-feira, 16 de abril de 2018
Provérbios provados no Livro das caras
Este blog acaba por funcionar mais como arquivo do que como montra. Iniciado em 2008, foi-se enchendo timidamente de histórias e há alguns meses também de poesia. Há cerca de meio ano criei uma página no Facebook onde, além das publicações que aqui podem ver, tenho outras rubricas baseadas na cultura popular e feitas de uma maior interacção com os leitores. Querem ver? Aqui está o caminho:
www.facebook.com/ProverbiosProvados
www.facebook.com/ProverbiosProvados
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbios provados seleccionados - IV
Neste blog contam-se histórias a partir de provérbios, uns mais conhecidos que outros. Às vezes também me acontece escrever primeiro o texto e somente depois encontrar um adágio que encaixe. A receita não tem nada que enganar: misturam-se os ingredientes todos e no fim sai o provérbio quentinho do forno da cultura popular. Aqui vai um punhado de pequenos contos que seleccionei, desvendando à partida o final:
- A mulher quer-se pequenina como a sardinha
- Anda meio mundo a enganar outro meio
- No Outono o sol tem sono
- Morta sim, mas presa não
- Quem fala assim não é gago
- Quem feio ama bonito lhe parece
- Ninguém é amado se só de si tem cuidado
- Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão
- Quando o coxo de amores morre, que fará quem anda e pode?
- A mulher quer-se pequenina como a sardinha
- Anda meio mundo a enganar outro meio
- No Outono o sol tem sono
- Morta sim, mas presa não
- Quem fala assim não é gago
- Quem feio ama bonito lhe parece
- Ninguém é amado se só de si tem cuidado
- Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão
- Quando o coxo de amores morre, que fará quem anda e pode?
Quem prova provérbios gosta de aliterações
domingo, 15 de abril de 2018
Provérbio provado rimado - CCCLXIII
Gente cusca dá-me nervinhos
Por gostar de criar burburinhos
E quando não sabe inventa
Lança boato ou ao menos tenta
Pior é que causa alguma mossa
Não é na sua vida é na nossa
Pois picam esses indiscretos
Muito mais que os mais chatos insectos
Por gostar de criar burburinhos
E quando não sabe inventa
Lança boato ou ao menos tenta
Pior é que causa alguma mossa
Não é na sua vida é na nossa
Pois picam esses indiscretos
Muito mais que os mais chatos insectos
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLXII
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado no supermercado
Gosto à brava de mulheres; pronto, gosto delas! A minha ex sogra dizia que eu era um mulherengo da pior espécie, que não podia ver um rabo de saias. E realmente meti os cornos à filha dela com aparato, não uma mas duas vezes. Já a minha querida mãe, generosa que só ela, chamava-me namoradeiro. Parece que a estou a ver, sempre a limpar as mãos ao avental: muito bom rapaz, o meu Paulo, mas um bocado namoradeiro, coitado, as mulheres são a sua perdição. E ela tinha razão, são mesmo!
Gosto delas altas, baixas, gordas, magras, pretas, brancas e amarelas às pintinhas. Até as um bocadinho feias marcham; aliás, tenho cá a minha teoria que as menos bonitas são bem mais esforçadas na cama. Gosto de as cortejar com afinco e de lhes dar tanta e tamanha graxa até lhes conseguir puxar pelo brilho que todas têm, mesmo as que julgam não ter. Para mim um elogio não tem hora nem lugar e o bom humor - ah, o bom humor que arranca até aquele sorriso mais difícil - faz milagres.
Só numa coisa sou um bocadito esquisito: gosto delas tenrinhas, atirem-me pedras, vá! Não digo com isto que goste de gaiatas na puberdade a cheirar a leite, mas aprecio umas mamas que ainda apontem para o céu e um rabinho bem torneado, é pecado?
Ao menos assumo-me, penso em mulheres vinte e quatro horas por dia. Tal como agora: estou aqui parado na fila a galar a moça que está atrás do balcão do supermercado. É gira todos os dias e há já alguns que venho reparando nela. A cada novo cliente que surge, pergunta bem intencionada: o que deseja? Estou cheiinho de vontade de lhe responder: desejo-a a si, minha flor! Mas não quero que se zangue, prefiro fazê-la rir. De modo que quando chega a minha vez, e ela repete sorrindo: o que deseja?, eu de imediato atiro: olhe, desejo
- Pão mole e uvas, às moças põe lindas e às velhas tira as rugas
Gosto delas altas, baixas, gordas, magras, pretas, brancas e amarelas às pintinhas. Até as um bocadinho feias marcham; aliás, tenho cá a minha teoria que as menos bonitas são bem mais esforçadas na cama. Gosto de as cortejar com afinco e de lhes dar tanta e tamanha graxa até lhes conseguir puxar pelo brilho que todas têm, mesmo as que julgam não ter. Para mim um elogio não tem hora nem lugar e o bom humor - ah, o bom humor que arranca até aquele sorriso mais difícil - faz milagres.
Só numa coisa sou um bocadito esquisito: gosto delas tenrinhas, atirem-me pedras, vá! Não digo com isto que goste de gaiatas na puberdade a cheirar a leite, mas aprecio umas mamas que ainda apontem para o céu e um rabinho bem torneado, é pecado?
Ao menos assumo-me, penso em mulheres vinte e quatro horas por dia. Tal como agora: estou aqui parado na fila a galar a moça que está atrás do balcão do supermercado. É gira todos os dias e há já alguns que venho reparando nela. A cada novo cliente que surge, pergunta bem intencionada: o que deseja? Estou cheiinho de vontade de lhe responder: desejo-a a si, minha flor! Mas não quero que se zangue, prefiro fazê-la rir. De modo que quando chega a minha vez, e ela repete sorrindo: o que deseja?, eu de imediato atiro: olhe, desejo
- Pão mole e uvas, às moças põe lindas e às velhas tira as rugas
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLXI
Conto aqui um acontecimento
Como mo contou a minha prima
Só que não é prosa é em rima
Interrompam-me a qualquer momento
Vou então começar a contar
O caso desse tal elefante
Que se conta num breve instante
Fica em Lisboa o tal bar
Na verdade é casa de alterne
As bebidas são à comissão
Tem sofás logo no rés do chão
Já nos outros só a quem concerne
A minha prima tem uma amiga
Que foi lá colaboradora
Mas de forma muito amadora
Se o diz ninguém a desdiga
Lá conheceu o agora marido
Que era famoso empreiteiro
Parece que cagava dinheiro
E no bar andava bem bebido
Uma noite perdeu um tamanco
Tacão alto tal qual Cinderela
E ele procurou o pé dela
Por todo o Elefante Branco
Quando achou parou a admirar
Aquele pé com tão belas unhas
Que mesmo em sapatos de cunhas
Queria para sempre idolatrar
Assim combinaram esponsais
E essa ex Gata Borralheira
Subiu logo na vida à maneira
E Elefante Branco jamais
Perguntei à prima a razão
Se sabia do nome as origens
Desse bar que causava vertigens
Ela disse é só uma expressão
Uma frase própria do idioma
Significa algo muito pesado
Bem difícil de ser partilhado
Mais ainda de pôr na redoma
Como mo contou a minha prima
Só que não é prosa é em rima
Interrompam-me a qualquer momento
Vou então começar a contar
O caso desse tal elefante
Que se conta num breve instante
Fica em Lisboa o tal bar
Na verdade é casa de alterne
As bebidas são à comissão
Tem sofás logo no rés do chão
Já nos outros só a quem concerne
A minha prima tem uma amiga
Que foi lá colaboradora
Mas de forma muito amadora
Se o diz ninguém a desdiga
Lá conheceu o agora marido
Que era famoso empreiteiro
Parece que cagava dinheiro
E no bar andava bem bebido
Uma noite perdeu um tamanco
Tacão alto tal qual Cinderela
E ele procurou o pé dela
Por todo o Elefante Branco
Quando achou parou a admirar
Aquele pé com tão belas unhas
Que mesmo em sapatos de cunhas
Queria para sempre idolatrar
Assim combinaram esponsais
E essa ex Gata Borralheira
Subiu logo na vida à maneira
E Elefante Branco jamais
Perguntei à prima a razão
Se sabia do nome as origens
Desse bar que causava vertigens
Ela disse é só uma expressão
Uma frase própria do idioma
Significa algo muito pesado
Bem difícil de ser partilhado
Mais ainda de pôr na redoma
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLX
O Zé foi hoje para a festa
E convidou a Madalena
Ela fresca após a sesta
Aceitou e a mãe teve pena
Pois queria para a sua filhota
Um mais rico namorado
Que lhe desse mais que palhota
Ou qualquer T2 partilhado
Fez ao Zé grande questionário
E ia ele a meio do ditongo
Num discurso meio perdulário
Foi com sorte salvo pelo gongo
Já bate à porta a vizinha
Cheia de rolos na cabeça
E pede emprestada farinha
Tão depressa que quase tropeça
Aproveita a interrupção
Diz adeus à sogra futura
Agarra a Madalena pela mão
Deixa a treta para outra altura
Lá nessa festa de garagem
Pede a Madalena em namoro
E ela ganhando coragem
Dá-lhe grande beijo sem decoro
Diz-lhe ó Zé estou tão satisfeita
Por passar a tua namorada
Mas a mãe vai ficar contrafeita
Para já não lhe contamos nada
Pela rua de mão dada vão
Porém chegados a casa dela
Deixa a noiva junto ao corrimão
Não vá a mãe estar à janela
A sorte deveu-a à vizinha
Que ingenuamente o salvou
Quando tocou à campainha
E com o questionário acabou
E convidou a Madalena
Ela fresca após a sesta
Aceitou e a mãe teve pena
Pois queria para a sua filhota
Um mais rico namorado
Que lhe desse mais que palhota
Ou qualquer T2 partilhado
Fez ao Zé grande questionário
E ia ele a meio do ditongo
Num discurso meio perdulário
Foi com sorte salvo pelo gongo
Já bate à porta a vizinha
Cheia de rolos na cabeça
E pede emprestada farinha
Tão depressa que quase tropeça
Aproveita a interrupção
Diz adeus à sogra futura
Agarra a Madalena pela mão
Deixa a treta para outra altura
Lá nessa festa de garagem
Pede a Madalena em namoro
E ela ganhando coragem
Dá-lhe grande beijo sem decoro
Diz-lhe ó Zé estou tão satisfeita
Por passar a tua namorada
Mas a mãe vai ficar contrafeita
Para já não lhe contamos nada
Pela rua de mão dada vão
Porém chegados a casa dela
Deixa a noiva junto ao corrimão
Não vá a mãe estar à janela
A sorte deveu-a à vizinha
Que ingenuamente o salvou
Quando tocou à campainha
E com o questionário acabou
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLIX
Cala-me já essa matraca
Que provém duma língua velhaca
Pois as tuas artes marciais
Não são assim tão especiais
Achas que és palavroso
Mas és somente tendencioso
Ninguém consegues convencer
Quando o verbo queres dispender
Guarda mas é para melhores dias
Tais frases como as porfias
Para Domingos e dias feriados
E para os mal acostumados
Ou talvez para um referendo
Que às vezes vai acontecendo
Aí botarás faladura
Se não tiveres melhor altura
(Ilustração do Rui dos Prazeres Louraço www.instagram.com/condecascais)
Que provém duma língua velhaca
Pois as tuas artes marciais
Não são assim tão especiais
Achas que és palavroso
Mas és somente tendencioso
Ninguém consegues convencer
Quando o verbo queres dispender
Guarda mas é para melhores dias
Tais frases como as porfias
Para Domingos e dias feriados
E para os mal acostumados
Ou talvez para um referendo
Que às vezes vai acontecendo
Aí botarás faladura
Se não tiveres melhor altura
(Ilustração do Rui dos Prazeres Louraço www.instagram.com/condecascais)
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado num verso branco - XXXIV
Não é necessária faca demasiado afiada
Ou queijo luxuoso do mais cremoso
Para que se tenha a faca e o queijo na mão
Basta um gesto desprendido até pouco ambicioso
Uma imaginação que torne tenro o pão bolorento
Qualquer vontade mais ou menos convidativa
Que dilua o instante numa memória eficaz
Assim um crê e dilui a verdade que se assemelha
Àquela vida abundante e crua
Rude autêntica fácil de mastigar
A faca corta o queijo dos dias com o polegar
Ou queijo luxuoso do mais cremoso
Para que se tenha a faca e o queijo na mão
Basta um gesto desprendido até pouco ambicioso
Uma imaginação que torne tenro o pão bolorento
Qualquer vontade mais ou menos convidativa
Que dilua o instante numa memória eficaz
Assim um crê e dilui a verdade que se assemelha
Àquela vida abundante e crua
Rude autêntica fácil de mastigar
A faca corta o queijo dos dias com o polegar
Quem prova provérbios gosta de aliterações
sábado, 14 de abril de 2018
Provérbio provado rimado - CCCLVIII
Deixa-me em liberdade
Quietinha na prateleira
Digo-te com honestidade
Conhecer-me-ás de gingeira
Se te dizes apaixonado
Poderei ser tua mulher
Pois guardado está o bocado
Para quem o há-de comer
Quem prova provérbios gosta de aliterações
quarta-feira, 11 de abril de 2018
Provérbio provado mal vislumbrado
Dantes os sentimentos jorravam dos lábios, dos gestos, de uma perfeita sintonia com o meu corpo que se cria total. Agora só o vazio de um silêncio a espaços sem promessas com olhares tão profundos que quase doem. Gastámos as palavras que, ao menos, podiam tentar interpretar-se... mas um olhar?, como devolver um olhar podendo este ter mais de dez significados? Vejo-te tão calado. E só agora descubro que sempre estiveste assim. Nunca reparei porque enchia o ar com a minha presença, ocupada que estava com as minhas próprias sensações. É tão triste perder-te aos poucos, mas nem assim te queria sentir a partir mais rapidamente.
- Pior cego é aquele que não quer ver
- Pior cego é aquele que não quer ver
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLVII
Às vezes tenho a sensação
De estar a falar p'ró boneco
Se ninguém me presta atenção
Fico perto de me dar um treco
Pois gosto de ter audiência
Feed back e vários ouvidos
Assim haja paciência
E não estejam entupidos
Cheiinhos de bastante cera
Da que não sai com cotonete
Eu fico rápido uma fera
E vou falar mas é com a retrete
Mas a pior cera que existe
É a que está dentro da cabeça
Esse boneco é mais triste
Mais burro essa é que é essa
Com este discurso não quero
Parecer de todo arrogante
Muita tolerância espero
Vá lá não me achem pedante
Já estou bem habituada
A ninguém ser indiferente
Ou de mim não gostam nada
Ou veem o meu coração quente
Quando comecei esta rima
O meu assunto era um
Mas logo ideia peregrina
Levou-me para tema nenhum
Pois bem aqui me despeço
Perdoem-me a parvoíce
Às vezes a palavra não meço
E descamba em grande chatice
De estar a falar p'ró boneco
Se ninguém me presta atenção
Fico perto de me dar um treco
Pois gosto de ter audiência
Feed back e vários ouvidos
Assim haja paciência
E não estejam entupidos
Cheiinhos de bastante cera
Da que não sai com cotonete
Eu fico rápido uma fera
E vou falar mas é com a retrete
Mas a pior cera que existe
É a que está dentro da cabeça
Esse boneco é mais triste
Mais burro essa é que é essa
Com este discurso não quero
Parecer de todo arrogante
Muita tolerância espero
Vá lá não me achem pedante
Já estou bem habituada
A ninguém ser indiferente
Ou de mim não gostam nada
Ou veem o meu coração quente
Quando comecei esta rima
O meu assunto era um
Mas logo ideia peregrina
Levou-me para tema nenhum
Pois bem aqui me despeço
Perdoem-me a parvoíce
Às vezes a palavra não meço
E descamba em grande chatice
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado amantizado
Não percamos tempo aqui a encher linhas e linhas com palha para provar este provérbio. Sejamos sucintos e sintéticos e vamos mas é direitinhos à história.
A nossa heroína é um par de anos mais nova do que o marido. Ele divorciou-se da primeira mulher porque se encantou pela sua frescura e vai daí pediu-a em casamento. Então ela, anteriormente a ilegítima, casou com ele por interesse. No dinheiro, claro!, porque o interesse nele não era nenhum.
O marido foi operado à próstata e, como dizê-lo com elegância?, agora já não consegue consumar a conjugalidade no leito. Ela não perde tempo e arranja um amante viçoso na casa dos vinte a quem dá uma mesada com o dinheiro do marido que, por sua vez, afoga as tristezas não no álcool, mas a especular na bolsa em acções com capital de giro.
O mais que provável um dia dá-se: perde tudo e fica mais pobre do que ela em solteira. Arranca os poucos cabelos que ainda lhe restam, desespera-se, roga-lhe que não o deixe. Ela faz ouvidos de mercador e não vai de modas: pega nas malas de marca e nos sapatos de luxo e vai viver com o amante à beira da portagem da auto estrada. Fim da nossa história.
- Quando a pobreza bate à porta, o amor sai pela janela
A nossa heroína é um par de anos mais nova do que o marido. Ele divorciou-se da primeira mulher porque se encantou pela sua frescura e vai daí pediu-a em casamento. Então ela, anteriormente a ilegítima, casou com ele por interesse. No dinheiro, claro!, porque o interesse nele não era nenhum.
O marido foi operado à próstata e, como dizê-lo com elegância?, agora já não consegue consumar a conjugalidade no leito. Ela não perde tempo e arranja um amante viçoso na casa dos vinte a quem dá uma mesada com o dinheiro do marido que, por sua vez, afoga as tristezas não no álcool, mas a especular na bolsa em acções com capital de giro.
O mais que provável um dia dá-se: perde tudo e fica mais pobre do que ela em solteira. Arranca os poucos cabelos que ainda lhe restam, desespera-se, roga-lhe que não o deixe. Ela faz ouvidos de mercador e não vai de modas: pega nas malas de marca e nos sapatos de luxo e vai viver com o amante à beira da portagem da auto estrada. Fim da nossa história.
- Quando a pobreza bate à porta, o amor sai pela janela
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLVI
É tão difícil compreender
A sorte que tanto varia
Se um dia parece render
No seguinte logo contraria
Andamos aos seus desmandos
Mesmo quem não acredita nela
Tem lá seus comos e quandos
Vêmo-la passar da janela
Vai sempre a acelerar
No fundo atende a todos
Mas alguns saem a ganhar
Esses que têm sorte a rodos
Há quem leve a coisa a sério
E creia que tem tão má sorte
Que solte até o impropério
De preferir desejar a morte
A sorte que tanto varia
Se um dia parece render
No seguinte logo contraria
Andamos aos seus desmandos
Mesmo quem não acredita nela
Tem lá seus comos e quandos
Vêmo-la passar da janela
Vai sempre a acelerar
No fundo atende a todos
Mas alguns saem a ganhar
Esses que têm sorte a rodos
Há quem leve a coisa a sério
E creia que tem tão má sorte
Que solte até o impropério
De preferir desejar a morte
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLV
Para te atribuirem a fama
De algo que não fizeste
Até podes nem sair da cama
Vão dizer que nada perdeste
E não adianta retaliar
Nem chorar opá não fui eu
Que irão continuar a afirmar
A dizer ele bem o mereceu
Coisas que não andam aos pares
Essas da fama e do proveito
Pois é que azar dos azares
Só sabem fazer dor de peito
De algo que não fizeste
Até podes nem sair da cama
Vão dizer que nada perdeste
E não adianta retaliar
Nem chorar opá não fui eu
Que irão continuar a afirmar
A dizer ele bem o mereceu
Coisas que não andam aos pares
Essas da fama e do proveito
Pois é que azar dos azares
Só sabem fazer dor de peito
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado num verso branco - XXXIII
De uma vez por todas aceitem-se as derrotas
A soma dos infortúnios salda-se em aprendizagem
De tanto malhar em ferro frio obtém-se uma nova armadura
Resistente às intempéries e fogos fátuos
E que já não cega perante o espectáculo de uma aurora boreal
Não há fome que não dê em fartura
Sejam tamanhas perdas afinal melhores que muitas vitórias
Para que cresça o desejo da superação
Para que aconteça a rendição àquela felicidade decerto possível
A vida num sopro
Essa vida tão simples
A soma dos infortúnios salda-se em aprendizagem
De tanto malhar em ferro frio obtém-se uma nova armadura
Resistente às intempéries e fogos fátuos
E que já não cega perante o espectáculo de uma aurora boreal
Não há fome que não dê em fartura
Sejam tamanhas perdas afinal melhores que muitas vitórias
Para que cresça o desejo da superação
Para que aconteça a rendição àquela felicidade decerto possível
A vida num sopro
Essa vida tão simples
Quem prova provérbios gosta de aliterações
terça-feira, 10 de abril de 2018
Provérbio provado rimado - CCCLIV
Amar é mar no feminino
Como a mais alta maré
É onda que rouba o tino
Cuidado não percas o pé
No meio de tanta água
Leva um barco contigo
Para o amor não ter mágoa
E o vento ser teu amigo
Composto de madeira forte
Que não seja um barco precário
Não te faça rumar para norte
Onde todo o vento é contrário
É capricho da Natureza
Se depois de chuva nevoeiro
Terás peixe na tua mesa
E bom tempo marinheiro
Como a mais alta maré
É onda que rouba o tino
Cuidado não percas o pé
No meio de tanta água
Leva um barco contigo
Para o amor não ter mágoa
E o vento ser teu amigo
Composto de madeira forte
Que não seja um barco precário
Não te faça rumar para norte
Onde todo o vento é contrário
É capricho da Natureza
Se depois de chuva nevoeiro
Terás peixe na tua mesa
E bom tempo marinheiro
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLIII
Estar com um grãozito na asa
Acontece em muita casa
Às vezes é o que faz falta
Para animar bem a malta
Com os cotovelos na mesa
Afasta qualquer tristeza
Na companhia de amigos
Livra de todos os perigos
E se não houver mau vinho
Só embebeda um bocadinho
Pode dar em cantoria
Partilha e muita alegria
Acontece em muita casa
Às vezes é o que faz falta
Para animar bem a malta
Com os cotovelos na mesa
Afasta qualquer tristeza
Na companhia de amigos
Livra de todos os perigos
E se não houver mau vinho
Só embebeda um bocadinho
Pode dar em cantoria
Partilha e muita alegria
Quem prova provérbios gosta de aliterações
sexta-feira, 6 de abril de 2018
Provérbio provado do amor duplicado
Continuavam a juntar-se no primeiro Domingo de cada mês, embora fosse sempre um pouco complicado gerir o mau humor dos respectivos maridos que por uma tarde lá acediam a ficar a ajudar os putos com os trabalhos de casa. O da Solange era o mais compreensivo e transferia a prole para casa dos sogros, deixando-lhes a mesa da sala, liberta de cadernos, guaches e brinquedos, que se vestia de uma toalha bordada de enxoval e do serviço já incompleto que tinha pertencido à avó dela. Por causa disso, e porque fosse uma criatura saudosista, a Solange contava sempre alguma história da aldeia da sua infância. Iam sorvendo o líquido em goles lentos, mastigando biscoitos com ar pensativo, escutando-se umas às outras as habituais agruras: os desmandos da cabra da cunhada da Cláudia, a hipertensão, diabetes e artroses da Sandra, as más notas na escola dos miúdos da Leonor.
Eis que enfim a Luísa lá chegava, atrasada como sempre, desbocada como sempre. O chá já tinha arrefecido, a conversa das amigas também. Todas despertavam, vivazes como molas, e emprestavam os ouvidos às sempre insólitas aventuras que ela relatava. Divorciada há vários anos do pinguço do primeiro marido, no último Domingo a Luísa surgira particularmente excitada. Primeiro porque tinha batido com a carrinha no dia anterior e tivera uma altercação com o outro condutor. Depois - e aqui é que vinha a novidade sumarenta - porque o já antecipado flirt com o tal professor de Pilates, uma brasa!, um corpão!, chegara a vias de facto e resultara numa relação tórrida que a trazia num incêndio só.
- O problema é o Gonçalo - dizia a Luísa, meio envergonhada meio divertida - é que também gosto dele, tão fofinho, tão certinho, regrado e atinado. A água e o vinho, meninas!
Fez-se um silêncio constrangedor: as amigas de semblante incriminatório, intimamente invejosas da vida amorosa superlativa da Luísa. Foi a Solange que quebrou o gelo:
- Luísa, sua devassa!, assim não dá. Tens de optar, amiga... A minha avó é que costumava dizer - já há bocado falei dela quando a Leonor lhe partiu mais uma chávena do serviço, a desastrada! - ela é que costumava dizer que
- Mulher que a dois ama, ambos engana
Eis que enfim a Luísa lá chegava, atrasada como sempre, desbocada como sempre. O chá já tinha arrefecido, a conversa das amigas também. Todas despertavam, vivazes como molas, e emprestavam os ouvidos às sempre insólitas aventuras que ela relatava. Divorciada há vários anos do pinguço do primeiro marido, no último Domingo a Luísa surgira particularmente excitada. Primeiro porque tinha batido com a carrinha no dia anterior e tivera uma altercação com o outro condutor. Depois - e aqui é que vinha a novidade sumarenta - porque o já antecipado flirt com o tal professor de Pilates, uma brasa!, um corpão!, chegara a vias de facto e resultara numa relação tórrida que a trazia num incêndio só.
- O problema é o Gonçalo - dizia a Luísa, meio envergonhada meio divertida - é que também gosto dele, tão fofinho, tão certinho, regrado e atinado. A água e o vinho, meninas!
Fez-se um silêncio constrangedor: as amigas de semblante incriminatório, intimamente invejosas da vida amorosa superlativa da Luísa. Foi a Solange que quebrou o gelo:
- Luísa, sua devassa!, assim não dá. Tens de optar, amiga... A minha avó é que costumava dizer - já há bocado falei dela quando a Leonor lhe partiu mais uma chávena do serviço, a desastrada! - ela é que costumava dizer que
- Mulher que a dois ama, ambos engana
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado num verso branco - XXXII
A música nunca vem do quarto que se espera
Ou a melhor melodia daqueles lençóis com mais cor
Por estas e por outras de nada adianta aquecer o caldeirão
O feitiço acaba sempre por se virar
Contra o suposto poderoso feiticeiro
O segredo é deixar a inaudível percussão
Assemelhar-se ao bater do coração
E nesse improvável compasso
Bailar ao sabor das madrugadas
Que transportam os dias das certezas derradeiras
Ou a melhor melodia daqueles lençóis com mais cor
Por estas e por outras de nada adianta aquecer o caldeirão
O feitiço acaba sempre por se virar
Contra o suposto poderoso feiticeiro
O segredo é deixar a inaudível percussão
Assemelhar-se ao bater do coração
E nesse improvável compasso
Bailar ao sabor das madrugadas
Que transportam os dias das certezas derradeiras
Quem prova provérbios gosta de aliterações
Provérbio provado rimado - CCCLII
As modas vão a reboque
E o que era no século passado
Dito um corpo bem desenhado
Agora é considerado batoque
Pois tecer loas à gordura
Está hoje ultrapassado
Não dá um provérbio provado
Que ela já não é formosura
E o que era no século passado
Dito um corpo bem desenhado
Agora é considerado batoque
Pois tecer loas à gordura
Está hoje ultrapassado
Não dá um provérbio provado
Que ela já não é formosura
Quem prova provérbios gosta de aliterações
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