Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto
Pode parecer-te desculpa
Ou talvez coisa inventada
Mas de facto não tenho culpa
De não estar apaixonada
Escusas de ficar tão raivoso
Como se fosse obrigação
Entrar num processo moroso
Sem medir antes a pulsação
Contigo nada mais quero
Pois já estás é a delirar
E doravante o que espero
É que aprendas a perdoar
Não sei se serás capaz
De te aguentares sozinho
Mas vou dar um passo atrás
Enquanto arrepio caminho
Dispenso surpresas e ramos de flores
Se os outros actos trazem dissabores
E quando um elogio sai em triplicado
Parece-me um caso exagerado
Está bem de ver onde acaba o proveito
Com tanto argumento que leva ao leito
Não é necessário empolar o amor
São tudo desculpas de mau pagador
O Jacinto gosta de vinho
Mas não curte beber sozinho
Na verdade é um seca-adegas
Quando bebe fica piegas
Vira-se então prós amigos
Que o acompanham nos perigos
E metendo logo o bedelho
De borla dá-lhes um conselho
Vão virando os copos seguidos
Até no chão estarem caídos
E para grande ressaca evitar
Deverão o Gregório chamar
O segredo é não ser esquisito
Ou seria o bom e o bonito
Façam sempre assim como eu
E terão um assento no céu
A malta vai escutando o Jacinto
Bebendo do branco e do tinto
E para o compincha agradar
Não pára de emborcar
Se queres saber qual o ponto
Central de uma questão
Não necessitas ser tonto
Ou armar uma discussão
Basta que o detalhe vejas
Dessa situação decorrida
Quando o que mais desejas
É pôr o dedo na ferida
Com garra tu dá-lhe gás
E assim verás que és capaz
Vai em frente e vai sem medo
Fica entre nós o segredo
Estou aqui por ti a torcer
Por tudo o que vais aprender
Que esta nova fase da vida
Seja um sucesso querida
Se um verso falar contigo
Chama-lhe logo amigo
Começa assim a escrever
Sem preocupação de o ler
Deixa que te leve em frente
Tal como ordena a mente
Dá-lhe toda a liberdade
Para não ficar pla metade
E se te fala ao ouvido
Como um verso prometido
Usa o tímpano aberto
Se o verso anda por perto
É esta a melhor forma
Ainda que fuja à norma
Dar sempre à poesia
Carta branca faz magia
Em admitindo um erro
Na lama não caem parentes
Antes valorizo o que sentes
Os dentes na carne não ferro
Com os parentes caídos na lama
A gente que é cheia de toques
Para evitar mais remoques
Finge não ouvir quem a chama
Passando assim despercebida
Torna inexpressiva a fronha
Para assim evitar a vergonha
De errar amiúde na vida
Não percebo a questão sequer
Pois continuamente a errar
Não meço os dias a passar
E irei igualmente morrer
Quando me franziste o cenho
Também o sobrolho cerraste
Constatei que razão não tenho
Ao perceber o contraste
E se antes estavas tranquilo
Mudaste logo de expressão
Então eu pedi-te sigilo
Por não ter prestado atenção
A Elisabete não tem
As cinco medidas aferidas
Embora ela seja porém
Pessoa das mais queridas
É tamanha a sua maluqueira
Que jamais está concentrada
Contudo toma a dianteira
Quando vamos para a noitada
Não mostra o baralho completo
Se para jogar a convocam
Mais longe do chão que do tecto
Ignora quando a provocam
Por ela os alqueires não ter
Medidos tal como os demais
Há-de sempre surpreender
As gentes chamadas normais
A verdade costuma ser argumento para toda a defesa firme
Não há coisa mais válida ou mais pungente
Do que uma verdade que é nua e crua
É uma atitude que não precisa de casacos
Que em sendo autêntica vale só por si
Cada um se depara com a sua própria verdade
Ou acaba por vestir aquela que melhor lhe assentar
Que perde assim a nudez mas não a transparência
Porque a verdade não é por norma opaca
Nem beneficia com a posse de alicerces
Ou sequer de tectos que esgotem anfiteatros
Todavia do outro lado do espelho vive a mentira
Que necessita sempre de cúmplices
Duas ou três vozes que lhe sustentem o corpo
Só assim é uma verdadeira mentira vestida de enganos
Eu detesto tanto o ciúme
Ele é o tipo de gatilho
Que mal lhe sinto o perfume
Sinto de imediato sarilho
É coisa de gente primária
Insegura e sem confiança
Que assim patrulha a área
Antes de comprar a aliança
Onde não há nada imagina
A mais forte e vil das traições
Depois logo que pode termina
De chofre as suas relações
De todos os males o maior
O ciúme sabe rebaixar
Matando de vez o amor
Que deixa de poder funcionar
Ciúmes que são mal fundados
Certamente não são pedidos
Mais parece serem buscados
Do que na verdade sentidos
Muito ajuda quem não atrapalha
E se escusa de colaborar
Sempre que a postura lhe calha
Servir só para contrariar
É melhor ficar quietinho
E a língua de trapos guardar
Para assim evitar burburinho
Deixando os restantes brilhar
Às vezes nós não exploramos
Aqueles com quem nos cruzamos
Mas há sempre uma vibração
Que nos vem depois dar razão
Mesmo se somos vagarosos
De forte ligação receosos
Há qualquer botão que acende
Mesmo quando ninguém o pretende
Se é confuso o labirinto
Há que confiar no instinto
Não temer cada novo abraço
Ainda que redunde em fracasso
Está escrito que a felicidade
É algo que se multiplica
Ao se dividir com verdade
Até com quem connosco não fica
Por cada desejo que surge
A qualquer alma apressada
Satisfazê-lo então urge
Por não ser disciplinada
É como um palito no dente
Tal qual espinha na garganta
Que a tudo passa à frente
Porque mais nada adianta
Mas existe pelo contrário
Gente que é mais tranquila
Então pode pôr perdulário
O desejo esperando em fila
Por colocar tanto em bicha
Acredita que é bem prudente
Até que lá mais tarde a ficha
Lhe cai de modo estridente
Se for inesquecível se esquece
Se for necessário até sobra
E logo essa pessoa padece
Só lhe resta pôr mãos à obra
Se cedes um miligrama
Já ficarás com a fama
De ser um tipo flexível
E normalmente acessível
É logo o primeiro passo
Que te trará embaraço
Pois se não tens atenção
Levam-te até o colchão
Tiram o ar que respiras
Na propagação de mentiras
O cerco está mais apertado
Para te deixar fecundado
Bem podes tu protestar
Que o mel não vão largar
E quem essa porta abriu
Vá para a puta que o pariu
