Eu bem sei, bem sei melhor do que imaginas que sei. Já tive a tua idade, filha, cada novo dia era mesmo novo! Agora é apenas mais um dia no calendário onde é sempre Inverno, Julieta, mas não te confesso estes meus pesares para não te inquietar... Tens muito tempo para acumular tristezas; envelhecer, lá no fundo, é isso, mas para já para ti é segredo: nesta altura só coleccionas surpresas e outros sinónimos de coisas que desabrocham.
Acabo por ter uma certa inveja dessa leveza, sabes? É por isso que os meus conselhos expressam este misto de dor de cotovelo e preocupação.
Por isso sou esta mãe chata quando te recomendo que não saias dos trilhos previamente desenhados. O bosque esconde muitos perigos. Só nas histórias dos livros um lobo com fome é um lobo mau. Vistas bem as coisas como realmente são as coisas, um lobo com fome é também uma alcateia com fome. Não é só um lobo mau, querida, é uma chusma de canídeos cinzentos esfaimados cujo instinto animal sugere a busca activa de alimento.
Com a idade que agora tens não sei como te explicar que nem sempre a providência é divina. Não sei como te explicar como é chato para mim ser uma mãe chata. Era mais fácil quando tinhas seis anos e te contava a história do Capuchinho Vermelho. Nessa época, era tudo mais fácil porque acreditavas no Pai Natal.
Agora tens treze anos e todas as treze certezas do mundo. Um dia, daqui a mais treze anos, quando te doerem as feridas na pele e na alma, perceberás que também os humanos se movimentam com esse mesmo instinto de sobrevivência animal. E a quem te disser que A necessidade aguça o engenho acrescentarás também que
- A necessidade faz o lobo saltar
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