Dava beijos muito lentos e prolongados na perspectiva de que lhe durassem mais os amores.
Começava assim por encostar os seus lábios aos do outro com uma suavidade quase receosa, estudando-lhes a polpa e a eventual disponibilidade. Após este primeiríssimo contacto, que efectuava sustendo a respiração, já podia pressionar um pouco mais e efectuar uma entrega concertada: o lábio superior tendia a quedar-se mais invisível ao passo que o inferior se distendia num prolongamento da separação que mediava o primeiro do segundo beijo.
Depois ousava timidamente a ponta da língua ao encontro da língua parceira e era então que deixava de apenas adivinhar para passar a saborear o sal da boca alheia. Nessa altura, as duas bocas conheciam-se e sucedia-se uma pausa para um sorriso seguido de um beijo mais acentuado.
À medida que o medo se distanciava e se permitia um abandono exponencial, os beijos intensificavam-se com mais língua e mais saliva e misturavam-se com dentes e dedos.
Uma excitação toda corpórea percorria a coluna vertebral, ora do lóbulo da orelha ao sexo já pulsante ora no sentido contrário, querendo escapar a um entumescimento precoce, concentrando-se na anatomia de cada beijo partilhado.
Enquanto esses beijos durassem vívidos, assim se estabeleceria a possibilidade de um amor futuro e seu pretenso desgosto.
- Boca que apetece, coração que padece
sexta-feira, 24 de abril de 2020
Provérbio provado beijado
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