Provérbios Provados noutras casas:

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Provérbio solitário - III

A Liliana vivera sempre no meio da multidão. Como era filha única, tivera a todo o momento necessidade de companhia para brincar em criança e, já em adulta, fugia de estar sozinha como o diabo da cruz. Era muito sociável, gregária por natureza, e pelava-se de medo da solidão.
Ironia do destino, após várias relações fracassadas, dera por si a viver só no seu apartamento muito bem organizado, arrumado e asseado na grande cidade. Liliana tinha sempre música a tocar ou a televisão a transmitir notícias ou programas de qualidade mais ou menos duvidosa. O que era preciso era disfarçar o silêncio e não deixar que os pensamentos falassem mais alto.
Liliana tinha um vasto grupo de amigos de longa data que contactava com regularidade a somar a um sem número de amizades circunstanciais com que também dialogava a espaços quando as mais antigas se cansavam da sua permanente necessidade de atenção. Ela intuía quando tinha esgotado a paciência do interlocutor, já que o mais das vezes aquele não tinha sequer coragem para lhe dizer abertamente que estava a ser maçadora. Metia a viola no saco e escolhia a próxima vítima que enchia de convites para jantar, cinemas e planos de futuras viagens, tudo fazendo para estar presente e lhe ser prestável, tornando-se assim necessária. Mas já se sabe o que se diz (e diz-se tanto no mundo laboral!): ninguém é insubstituível e Liliana também não o era. Às tantas, aparecia alguém mais interessante, com mais predicados ou simplesmente menos chata e ela era posta de lado sem dizer água vai.
Liliana ficava para morrer: levava essas rejeições muito a peito e eram rudes golpes na sua auto estima. E se era assim com as amizades não correspondidas, o cenário em tudo se assemelhava quando se tratava de amores. A Liliana estava farta de tentativas goradas e já nem o sexo fortuito lhe interessava: embora pudesse ser momentaneamente satisfatório, deixava-lhe uma sensação de vazio no dia seguinte. Via-se de novo só e depois era um dia de juízo para contrariar essa espiral descendente de pensamentos negativos.

- A solidão é péssima conselheira

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