Provérbios Provados noutras casas:

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Provérbio provado roubado

A mãe do Evaristo abandonou-o em criança e ao marido e foi para paragens desconhecidas com um amante de circunstância nunca mais dando notícias. Ficaram ambos no casebre em ruínas daquela terriola montanhosa sem uma mão feminina.
O Evaristo apresentou, desde muito novo, uma enorme propensão para a maldade no seu estado puro: um dos seus passatempos favoritos era cegar os cães e gatos sem dono que pela aldeia vagueavam. Também ele vagueava pelas terras circundantes deitando a mão ao que podia, à época em que as pessoas ainda deixavam as chaves nas portas à confiança. O Evaristo não era amigo de ninguém, só do alheio. Os aldeãos bem se queixavam ao pai que apenas encolhia os ombros, meio desinteressado meio triste de não conseguir que o filho encarrilasse.
Ainda decorria a adolescência, eram já somados muitos roubos no currículo e o Evaristo foi bater com os costados no reformatório. Foi a sua escola: lá aprendeu o ofício de bandido encartado e se viciou nas drogas duras que lhe retiraram a expressão doce de menino.
Regressou à aldeia e, no tempo que ao retorno se seguiu, não houve casa que não visitasse. O tio Chico ficou sem o dinheiro amealhado para a reforma do telhado, a Alice sem a televisão e o DVD, o Sr. Fernandes sem os whiskeys de colecção. O Evaristo não era esquisito: tudo o que fosse passível de venda por ele era subtraído. Os habitantes da terra, depois de perdidos alguns dos seus bens, desataram a reforçar as fechaduras. Nunca o António serralheiro tivera tanto trabalho.

- Depois da casa roubada, trancas à porta

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