Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Provérbio espanhol

Arminda cruzava a fronteira semanalmente para atestar de gasóleo e de umas tapitas acompanhadas de umas cañitas. Se se deixava por lá anoitecer, regressava constipada de depósito cheio da cerveja gelada com sabor a mijoca mas também muito por culpa do vento fresco que soprava na meseta ibérica.
Num desses sábados, por lá conheceu o Pablo junto aos armazéns Preciados que a desafiou para tapear. Arminda aceitou encantada com os olhos brilhando, há tanto tempo que nenhum homem a convidava para nada! Claro que o Gabriel não contava, era o único professor homem lá na escola e bombardeava todas as colegas com solicitações de cafézinhos enquanto fumava como uma chaminé. O Pablo não; o Pablo tinha um savoir faire matreiro; o Pablo deixava as propostas de envolvimento no ar sem ser demasiado cola; o Pablo olhava-a nos olhos sem desviar os seus; o Pablo, pasme-se!, recitava Lorca a espaços, loquaz, no meio dessas miradas atentas.
Prontinho, tiro e queda, a Arminda passou a ir atestar o depósito mais vezes pois cada vez gastava mais gasóleo de tanto transpor a fronteira. Ele deixava-se ficar por lá, nunca propondo ser ele a deslocar-se à Lusitânia. Ainda assim, a Arminda, loucamente, cegamente, apaixonada, fazia planos a dois e até acreditava num futuro matrimónio, cada vez com o nariz mais congestionado da ventania que penetrava pelos poros do carro enquanto viajava para cá e para lá.
O pedido nunca chegou e o Pablo um dia deu o namoro por concluído, mudando de número de telefone e bloqueando a Arminda nas redes sociais.

- De Espanha nem bom vento nem bom casamento

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