O David era um tipo tão culto tão culto que a primeira coisa que fazia quando acordava era abrir o frigorífico e sacar uma enciclopédia que engolia à pressa. Após o pequeno almoço, arrotava alto e bom som, enfartado de tanta sabedoria, e ia imediatamente lavar os dentes pois, como também era vaidoso, não queria sair à rua com pedaços de letras agarradas à cremalheira.
À noite, o seu grupo de amigos costumava reunir-se no café lá do bairro. Às vezes, para matar o tempo, faziam uma espécie de jogo que invariavelmente colocava o David no centro das atenções: propunham-lhe que descodificasse a origem e significado de determinadas expressões. Ele pigarreava para ganhar balanço e discorria longamente, dando-se ares de importante, convencido de que os amigos aceitariam como verdade toda e qualquer informação que debitava, não se preocupando em verificar a posteriori a credibilidade das suas fontes.
Certo serão, aborrecida já de descredibilizar as mais recentes afirmações do primeiro ministro, a Catarina soprou-lhe algo ao ouvido e silenciou os demais, aguardando todos que o David contasse mais uma das suas histórias...
Ora bem, meus caros, era uma vez um profeta muito popular entre o seu povo, visto que conseguia que uma sardinha alimentasse várias famílias, transformava água em vinho e pedras da calçada em ouro do mais fino quilate com um simples toque do dedo indicador.
Tendo-lhe sido pedido numa ocasião um milagre especialmente espectacular que demonstrasse a veracidade dos seus ensinamentos, o dito profeta ordenou que o monte Sinai caminhasse na sua direcção. Disse uma, disse duas, e o monte ficou mudo e quedo na paisagem como uma grande embalagem de plástico não reciclável, deixando o povaréu sobremaneira desiludido. É verdade, a montanha não se moveu nem um milímetro, mas uma sarça das redondezas explodiu num tal fogo que, por mais que ardesse, não se consumia. O profeta pediu então silêncio para melhor poder escutar a voz divina que, do meio das tórridas labaredas, lhe indicava os passos seguintes: Ó meu filho iluminado, sobe de imediato àquela montanha onde te ofertarei duas placas com normas de procedimento para o povo. Ele assim fez e por lá se demorou quarenta dias e quarenta noites sem comer nem beber. Quando finalmente desceu encontrou toda a gente a dormir; sacudiu-os um por um e assegurou-lhes que a misericórdia de seu pai era de tal forma profunda que, ao impedir que o monte se deslocasse, os tinha poupados a todos de serem esmagados pela enorme massa de terra. Depois, para disfarçar o ter-se esquecido de trazer consigo as placas da lei, foi caminhar sobre as águas do mais próximo mar, arrancando em redor ohs de admiração.
E agora, queridos amigos, quem adivinha qual é a expressão? Vá lá, Catarina, não te descaias... Pois é, esta é muito fácil, está mesmo a ver-se!
- Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha
sábado, 28 de março de 2020
Provérbio provado todo misturado
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