Provérbios Provados noutras casas:

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Provérbio provado rimado - CDX

Ele dá lições de moral
E parece pessoa normal
Mas lá no fundo é mauzinho
Hipócrita e até mesquinho

Comunga a hóstia na missa
Mas de fazer o bem tem preguiça
O homem que bate no peito
É perto de velhaco perfeito

Provérbio provado afogueado

O Armindo estava atrás do balcão, nervoso e furioso, as veias das têmporas latejando, tentando perceber quem fora o cliente sem vergonha que subtraíra duas tortas de Azeitão.
- Ainda há pouco aqui estavam na montra, amarelinhas e convidativas,  mesmo a pedir umas dentadas! - dizia enfurecido, enquanto segurava na mão direita um barrete esverdeado. - Quem foi, esse ladrão miserável, deixou cair esta carapuça, estão todos a ver? Pois bem, meus senhores,  vamos fazer isto como o sapatinho da Cinderela...

- A quem servir a carapuça que a vista

Provérbio provado rimado - CDIX

Ó amor tu queres casar?
Diz o Pedro apressado
Meu querido vou pensar
Há pouco és meu namorado

Queres ter conta conjunta
Avançaste com a proposta
É apressada a pergunta
E vagarosa a resposta

Provérbio provado rimado - CDVIII

Desculpa mas não é verdade
Pois lá no outro hemisfério
Quando há sol na cidade
Aqui é de noite mistério

Nem sequer ali na Espanha
O sol nasce à mesma hora
E com destreza tamanha
Vai-se até mais tarde embora

Assim quando nasce o sol
Dizem que é para todos
Poe lá de lado o lençol
E acorda com bons modos

Provérbio provado rimado - CDVII

Como enche o papo a galinha?
Já se sabe que é poupadinha
Um a um come na capoeira
Grão de milho tão sorrateira

Como ela tu podes fazer
Ao tentares enriquecer
Pois te digo que de grão a grão
Também se chega a milhão

Provérbio provado num verso branco - XLIV

Ouso o poema porque sem mão sou menos eu
A mão que finge cada verso que baila
Mão que sua e mão que tem frio

Descubro de repente o poema ao caminho
Tem pernas para andar sempre mais
Vestido de imagens imprecisas

O meu poema nunca tem nada para dizer
Não tem ponta por onde se lhe pegue
Sou poeta porque erro cada linha

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Provérbio provado rimado - CDVI

Enfrentam-se o touro e o bandarilheiro
Que é para ver quem marra primeiro
Oh coisa mais estúpida que é a tourada
A arena devia era estar encerrada

Cavaleiro vaidoso aguenta os cavalos
Não sabes mais fazer que cansá-los
Cala-te ó director da corrida
Que a multidão já está de saída

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Provérbio provado num verso branco - XLIII


À tua roda andam à roda
Outros humanos que valem tanto como tu
Pessoas imperfeitas e gregárias por natureza
Que te acompanham 
Querem acompanhar-te

Chega-te aos bons e serás um deles
Chega-te aos maus e até podes ser pior
Não há más companhias
O teu inimigo és quase tu inteiro
E sejam as tuas acções rectas ou curvas
Escolhes o que ouves e o que dizes
Se te influenciaram és tu que respondes

Mas hoje o dia já findou
Por agora esquece-te do canto das sereias
A metade que nelas é gente também fecha os olhos



quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Provérbio provado rimado - CDV

Todos fazem poesia
Neste cantinho da Europa
Fazem-no com euforia
Enquanto comem a sopa

Cantam loas às amadas
Filosofam muito à toa
Têm mentes recatadas
Tanto verso até enjoa

No que toca à qualidade
A coisa pouco promete
Mas rimam com liberdade
No poema que se repete

Fazem pausa em Agosto
Escondendo o verso singelo
Pois se não fosse o mau gosto
Que seria do amarelo?

Provérbio provado rimado - CDIV

Às vezes basta existir
Mesmo que não abras a boca
Vem logo alguém insistir
Que te calas porque és louca

Mas se dás uma nova ideia
Que alguém ao lado contesta
Fazem-te logo cara feia
Passas de bestial a besta

Provérbio provado num verso branco - XLII

Que as portas são quadradas já se sabe
Mas lá em cima a do céu tem a forma de uma nuvem
Para lá dela a tal luz divina tão branca
Que a eternidade é cega já se sabe
E por isso os anjos queimaram as asas
Enquanto o diabo esfrega um olho

Provérbio provado rimado - CDIII

Mais de meia vida vivida
Transtornos maleitas suspiros
Parte dela adormecida
Mas também momentos giros

Parece tão só correria
Mas é como diz o outro
Não há nada como um dia
Que surge depois do outro



quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Provérbio provado hibernado


Tinham estado um mês sem se verem. Rosa inventara uma conferência numa cidade longe o suficiente para lhe permitir passar a noite fora sem levantar suspeitas. Felizmente, o marido não era desconfiado, ainda há pouco lhe desejara boa noite pelo telefone sem questões de maior.
Embora agora estivesse a dormitar no rescaldo da paixão, ela sentia o corpo daquele homem ao seu lado que fazia o favor de não ressonar. Ele respirava muito devagar num movimento constante, convidando-a assim a encostar-se meio lânguida ao seu sono. Existia entre os seus corpos adormecidos uma tal continuidade que até se poderia tornar num hábito, quase um sentimento de segurança. Só aqui neste quarto sonhariam juntos a dormir por não o poderem fazer acordados.

- O que ninguém sabe, ninguém estraga

Provérbio provado rimado - CDII

Não sei o que tens contra mim
Para seres tão mula assim
Porque és tu tão invejosa
E pessoa nada atenciosa?

Não sei da inveja que atraio
Mas sei que da queda de um raio
Até ao raio que te parta
Há diferença que se farta

sábado, 8 de setembro de 2018

Provérbio provado rimado - CDI

Ó João tu és preguiçoso
Não gostas de acordar cedo
Não és nada meticuloso
Tua vida dava um enredo

Estas sempre a chutar para canto
À espera de alguém que faça
Até reparares com espanto
Que come o lençol a traça

Não queres tomar decisões
Queixas-te da vida cansada
Dás o cu e oito tostões
Para não fazer mesmo nada

Provérbio provado mal enjorcado

O Sebastião era narigudo, orelhudo, vesgo e tinha os lábios demasiado grossos. O corpanziltambém não ajudava: era rodas baixas e entroncado com uma barriga descomunal. Além disso, andava sempre mal enjorcado, ponta acima ponta abaixo, e carecia de classe.
No entanto, o Sebastião fazia sucesso entre o mulherio, desde as suas inúmeras amizades até às primas mais afastadas, já para não falar dos casos que ia tendo fortuitamente. Era um corropio: no Livro das caras não paravam de surgir novos pedidos femininos e de apitar mensagens e o telemóvel tocava continuadamente.
Eu não gosto de ser má-língua, mas quero crer que este interesse repentino na pessoa do Sebastião se devia àquele artigo num jornal sensacionalista que o pintava "O solteiro mais cobiçado do momento" devido à herança que receberia quando um dia os pais se finassem - o legado seria gordo e nem sequer havia irmãos com quem dividir o pecúlio. O artigo fazia-se acompanhar de uma fotografia com um Sebastião igualzinho a si próprio, mas isto não demovia as candidatas para quem

- Homem rico nunca é feio

Provérbio provado rimado - CD

Quem ao longe vai casar
Ou leva ou vai buscar
O que leva e o que traz
Em corrida tão voraz?

Porque não casou na aldeia
Em noite de lua cheia?
Porque foi casar lá longe
E escolheu padre e não monge?

Será que foi enganado
Num fato bem engomado?
Se até foi cedo ao barbeiro
E gastou tanto dinheiro!

Finda mais um garrafão
Brindes e apertos de mão
Tanto beijo nas bochechas
E desejos tão lamechas

Passa um dia tão comprido
Já se sente exaurido
Dói-lhe muito o maxilar
De sorrir sem não parar

Volta a casa no regresso
Espera ter um bom começo
Leva o padrinho pelo braço
E traz a esposa no regaço


Provérbio provado rimado - CCCXCIX


O tempo colado à pele
Lá nos ficheiros da mente
Mesmo se o presente o repele
Não me deixa jamais descontente

Vou abrindo com todo o cuidado
Os diques da renovação
E escrevo algo enlevado
Com a pena que me vem à mão

Vou sofrendo as transformações
Inerentes a esta passagem
Aos deuses digo orações
Muitas frases numa colagem

Tenho impressões sobre o mundo
Que vejo com nova dioptria
Sou demasiado profundo
Esqueço-me de dizer a alegria

No final da minha história
Que creio ser aqui ao pé
O resumo é uma vitória
Como as árvores morro de pé


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Provérbio provado rimado - CCCXCVIII

Ha uma expressão portuguesa
Tão errada tenho a certeza
Envolve sempre um rebanho
E uma ovelha que se crê com ranho

Se calhar terá alergia
Bale com menos energia
Onde há um lenço a mais
Para ficarem todas iguais?

Só que ela ranhosa não está
É ronhosa que se conta lá
A palavra não vem de ronha
Que ela tem alguma vergonha

O que tem é uma espécie de sarna
É doença que nela encarna
Posta de lado a ovelhinha
Fica sozinha coitadinha

Provérbio provado rimado - CCCXCVII

Quem o mesmo prédio partilha
Tem de seguir a cartilha
Que as reuniões são um frete
Mais valia ficar na retrete

Se pertences a uma comunidade
Que é uma pequena cidade
Diz bom dia e dá um sorriso
Mesmo se é o teu gesto conciso

Para ter boa vizinhança
Às dez acaba a festança
Se a vassoura bater no tecto
Já sabes fica bem quieto

Se o vizinho é intolerante
Tenta manter-te distante
Mas recebe-o de modo informal
Quando te vier pedir sal

Um dia sabes tudo muda
Podes tu precisar de ajuda
Não faças mal ao teu vizinho
Que o teu pode vir a caminho

Provérbio provado rimado - CCCXCVI

O namorado da Ana
Tem de abrir a pestana
Pois ela já está fartinha
De ser a eterna noivinha

O anel no dedo chegou
Mas depois não mais avançou
O casório com que ela sonha
Mais a visita da cegonha

A Ana não se vai resignar
Nem tão pouco os braços cruzar
Todos os dias lança a escada
Nem pensem que fica cansada

Há-de moer-lhe a cabeça
Até ver se a festa começa
Que água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura