«
Quando Sai começou a interessar-se pelo amor, começou a
interessar-se pelos assuntos do coração das outras pessoas; assim,
passou a importunar o cozinheiro com perguntas sobre o juiz e a sua
esposa.
O
cozinheiro declarou:
-
Quando eu vim trabalhar para a casa, todos os criados antigos me
disseram que a morte da sua avó fez do seu avô um homem cruel. Ela
era uma grande dama, nunca elevava a voz aos criados. Como ele a
amava! Aliás, era uma relação tão profunda que nos revirava o
estômago, pois era algo demasiado grande para ser contemplado por
qualquer outra pessoa.
-
Ele amava-a assim tanto? - Sai ficou atónita.
-
Devia amar – respondeu o cozinheiro. - Mas dizem que não o
demonstrava.
-
Talvez não a amasse? - aventou ela então.
-
Morda a língua, sua malvada. Retire o que disse! - gritou o
cozinheiro. - Claro que ele a amava.
-
Então, como podiam os criados saber?
O
cozinheiro refletiu um pouco, pensou na sua própria mulher.
-
Tem razão – admitiu ele. - Ninguém sabia realmente, mas também
naquela altura ninguém dizia nada. Mas saiba, menina, que existem
muitas formas de demonstrar amor e não só à maneira do cinema, que
é a única forma que a menina conhece. É uma rapariga muito tola.
O maior amor é aquele que nunca é demonstrado.
(...)»
In
A
herança do vazio
– Kiran Desai
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