Tais acontecimentos deixaram João devastado, teria de ser doravante ainda mais desconfiado. E assim se deixou andar, até conhecer Liliana num bar. Caiu-lhe literalmente no colo. O oposto de Vitória: Liliana era mundana, baixa, voluptuosa, madura. Cuidada, maquilhada, de unha pintada, nesse dia usava laranja – que descobriu depois ser a sua cor favorita. Conversaram, dançaram, cada gesto de Liliana um convite irrecusável, cada frase uma piada, um fluir irrepetível das horas; Liliana ia directa ao assunto. Encetaram de imediato uma relação toda baseada na atracção, e logo se amaram sem se conhecerem.
Mas pouco tempo passado já Liliana manifestava insatisfação em relação a João. Pequenas inseguranças atingiam proporções gigantescas. Se lhe perguntava: achas que ponha este vestido?, a resposta certa não era sim nem não, mas uma área cinzenta algures no meio porque nunca tinha trapos suficientes; se sim, nem queres saber; se não, és um insensível e estou mais gorda, não estou? - só o laranja era uma cor que lhe melhorava o humor. Se olhava em redor em espaços com gente (qualquer um fora de casa), logo era acusado de estar a mirar esta ou aquela, quando na verdade apenas via quem passava, o velhote com o cão, mas que disparate é este? Liliana mantinha-o numa teia de amuos e lágrimas seguidas de reconciliações. João começou a perceber que as lágrimas de mulher parece que valem muito e custam-lhe pouco: como as lágrimas dos crocodilos.
Uma noite, farto de Liliana e dos traumas do seu passado, bateu com a porta aliviado.
- Laranja madura em beira de estrada ou é azeda ou é bichada
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