«Em criança, ainda antes de
aprender a ler, passava horas na biblioteca da nossa casa, sentado no chão, a
folhear grossas enciclopédias ilustradas, enquanto o meu pai compunha versos
árduos, que depois, muito sensatamente destruía. Mais tarde, já na escola,
refugiava-me nas bibliotecas para fugir às brincadeiras, sempre brutais, com
que os rapazes da minha idade se entretinham. Fui um menino tímido, franzino,
alvo fácil da chacota dos outros. Cresci – cresci até um pouco mais do que é
comum -, ganhei corpo, mas continuei retraído, avesso a aventuras. Trabalhei durante
alguns anos como bibliotecário e creio que fui feliz nessa época. Tenho sido
feliz depois disso, inclusive agora, neste pequeno corpo a que fui condenado,
enquanto acompanho, num ou noutro romance medíocre, a felicidade alheia. Na
grande literatura são raros os amores felizes.(…)»
In O vendedor de passados –
José Eduardo Agualusa
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Provérbio citado (AGUALUSA)
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