Desde a infância mais tenra que o Arlindo se gabava de ver muito bem. Tinha uma visão raio-x e argumentava que via as coisas por dentro, afiançando que até vislumbrava para lá dos acontecimentos.
Por isso, onde os restantes não viam nada de nada, já ele tinha mirado tudo e empreendia a viagem de regresso. Inclusive possuía o dom de acertar no futuro: via as situações antes de estas acontecerem, sem nunca lhe entrar areia para os olhos.
Sim, era escusado tentar lorpear o Arlindo: ele não estava disponível para comer gelados com a testa. Via mais alto do que uma girafa das altas. Com mais clareza do que uma coruja à noite. Com mais limpidez do que um polvo nas profundezas do mar.
Durante a mais vulgar das conversas, o Arlindo parava às vezes muito de repente e cofiava o bigode dizendo: Está-me a vir aqui uma imagem...
- A gente olha e outro é que vê
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