Rebentaram-lhe as águas no primeiro dia de Janeiro quando
ainda não se faziam peças televisivas sobre o primeiro bebé do ano. Ainda
estavam todos a dormir e a Elvira não quis causar alarme: saiu pé ante pé da
casa dos pais e caminhou com esforço as duas ruas que a separavam da casa da
parteira. A Idalina recebeu-a ensonada, mas foi de imediato pôr água a ferver e
assistiu ao parto que se processou com normalidade.
Nos dias seguintes, a Elvira teve de aprender a ser mãe à
força, como o têm de fazer todas as mães por mais livros que tenham lido e
conselhos que tenham escutado. O bebé chorava a noite toda e ela embalava-o
horas a fio enquanto tentava que ele pegasse na mama.
A recente mãe teve de tratar do registo de nascimento e
pediu a um dos irmãos mais velhos que a acompanhasse ao cartório mais próximo
que não era nada próximo. Uma vez lá chegados, foram atendidos por um
funcionário antipático que estava tão bem ali como numa loja a vender tapetes.
Chegou enfim a pergunta que a Elvira mais temia:
- Nome do pai?
Silêncio. Ao vê-la tão constrangida, foi o irmão que tomou a
iniciativa e respondeu:
- Incógnito! O menino pode ficar com o nome da mãe?
O senhor do cartório olhou-os demoradamente por cima dos
óculos até chegar a dizer:
- Não há homem sem nome, nem nome sem sobrenome
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