Dona América calça os chinelos, ata o robe e fica ali no fogão, à espera que a água ferva para o chá. Pela janela espreita os pombos a fugir à frente do comboio. Espreita o quiosque e a rapariga que vende as revistas mastigando pastilhas, rebuçados e cigarros do lado de fora, à espera do príncipe encantado. Pela janela vê uma jovem no parque olhando o relógio impaciente, como este seu vigiar da água, e depois o namorado chegando e a discussão a romper. A Olinda espera ansiosa que lhe telefonem para aquela entrevista de trabalho e grita da sala: Ó Mãe, o raio da água nunca mais ferve?
À mesma hora, o António, que não gostava de chá, não esperava por nenhuma princesa e vivia acomodado no seu trabalho administrativo, recebeu do nada uma proposta para expor em Paris as suas telas, as suas horas de talento escondidas na garagem. No banco ao lado no avião rumo ao sonho, conheceu Louise que se tornava nesse dia o amor da sua vida.
- Água vigiada não ferve
P.S.- Post livre de preconceitos físico-térmicos, e quiçá apelando a um Nobel póstumo para os Srs. Celsius, Farenheit e Kelvin.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Provérbio provado em ebulição
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3 comentários:
Provérbios relacionados : água vigiada não ferve mas quem a vigia pode ferver em pouca água
Que maravilha, visitante anónimo, adoro o ponto de vista. Ou melhor, o ponto de ebulição :)
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