Provérbios Provados noutras casas:

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXVIII

A abstinência tem valor 

Praticada com moderação 

Torna-se estéril sem cor 

Se é fraca a motivação 


Se a dita a fraqueza 

Do corpo contra a evasão 

Ou o vício da avareza 

Que lhe exige moderação 


É mais do que sobriedade 

E passa a ser privação 

Quer subjugar a vontade 

A toda e qualquer abstenção 


Mas quando o excesso abunda 

Então surge a sofreguidão 

Que abre a porta à desbunda 

E promove a perdição 



Provérbio provado rimado - MCCCLXVII

Não dês a outrem razão 

Se não passa de opinião 

Embora devas ajustar 

E até fazer concordar 


Podem ser teus companheiros 

Mas são todavia terceiros 

E o que lhes é fundamental 

Para ti não é essencial 


Já que a razão alheia 

Vive de barriga cheia 

Convém que seja adjectiva 

Não deve ser substantiva 



Provérbio provado rimado - MCCCLXVI

Se ele ainda é cachorrinho 

Late muito pedindo miminho 

E deixa os chinelos estragados 

Depois de rasgar cortinados 


Para tudo tem um latido 

Até ser um bicho crescido 

Mas quando é velho o cão 

Se ladra é porque tem razão 


E tal como os seres humanos 

Após uma vida de enganos 

Não compram guerras em velhos 

Encheram o cu de conselhos 


Tantas primaveras depois 

Só quando os sujeitos são dois 

Se dispõem então a falar 

Sem ofender nem ralhar 


Não querem tempo despender

Que sirva só para entreter 

Um paleio superficial 

Que não preenche afinal 


Mas se vão a boca abrir 

É melhor alguém os ouvir 

Não há-de o discurso ser vão 

Se a esse trabalho se dão 



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXV

Não adianta a contenda 

Com animal tão nervoso 

Que nem por nada se emenda 

Por ser um bicho teimoso 


Se lhe encheres o ouvido 

Com tanta razão ponderada 

Ele finge-se distraído 

Como não escutando nada 


Não há assim um momento 

Que venha a talho de foice 

Pois para o burro argumento 

É responder com um coice 



Provérbio provado rimado - MCCCLXIV

Quando chego a um local 

Atiro logo uma laracha 

Que seja bem original 

E um pouco fora da caixa 


Inicio qualquer converseta 

Em que possa ideias trocar 

E mesmo que saia só treta 

Algo irá acrescentar 


Tomo assim a dianteira 

E pra não falar pró boneco 

Entro em amena cavaqueira 

Porque adoro o treco-lareco 



Provérbio provado rimado - MCCCLXIII

A filosofia de bando 

Da vaca do boi e bisonte 

É ir cagando e andando 

Para não fazer nenhum monte 


Mas com a merda que cagam 

Na relva ou no verde prado 

Cheiro tão medonho propagam 

Que o nariz está tramado 


Acompanhar tais manadas 

Não é para um qualquer 

Leva as narinas tapadas 

Até as vacas recolher 


Que cada cabeça normal 

Com mais de quinhentos quilos 

Tem um intestino animal 

Bem diferente dos grilos 


Depois de encher o bandulho 

Começa logo a ruminar 

Mastigando com barulho 

Para ir de seguida cagar 


Assim em fileira andando 

Largando o cocó assassino 

Lá vai a merda espalhando 

O grupo de gado bovino 


Então a lição a reter 

Para que o boi não destoe 

É poder merda fazer 

Desde que não amontoe 



sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXII

O tédio entrou no mundo 

Pela mão da prima preguiça 

Ambos criam um pano de fundo 

Que nenhuma vontade cobiça 


A pessoa não está satisfeita 

Nem sequer com a terra inteira 

E por isso o tédio é maleita 

É uma doença verdadeira 


Ele é a expressão suprema 

De uma indiferença total 

Ignorando que haja problema 

Por ser tão superficial 


E esse aparente prazer 

Não passa de um paliativo

Pois apenas sabe suspender 

O que seria imperativo 


Todo aquele que se aborrece 

No planeta em que habita 

Passa a vida num tipo de prece 

Que busca a estrela mais bonita 


O tédio inventou as apostas 

E todas as demais distrações 

Atirando para trás das costas 

O amor e outras emoções 


Ele acaba por ser a desgraça 

De quem estava realizado 

Entretanto por mais que faça 

Não deixa de estar enfadado 


É de efectiva importância 

Que possa encontrar um remédio 

Que controle bem a abundância 

Que dá sempre origem ao tédio 



Provérbio à mão de semear

Tenho aqui à mão uma mão cheia de expressões que uma mão amiga, mãos largas que só ela, me fez chegar de mão beijada em primeira mão. Confesso que fiquei abismada com tal profusão de mãos a abanar mas, como em princípio cada pessoa tem duas, até faz sentido.

Então resolvi pôr mãos à obra e, estando já de mãos na massa sem mãos a medir, pus-me a pensar na quantidade e qualidade de mãos que me ampararam. Em cada mão de ensino que recebi quando estava a precisar de uma reprimenda com mão firme. Em cada mão de ferro que me castigou injustamente e teria merecido uma bofetada sem mão. Mas também nas acções com que se me dirigiram com mão de mestre e me convenceram de que estava em boas mãos. E ainda aprendi a não pôr a mão no fogo por ninguém, nem à mão de Deus Padre.

Ah, meus amigos, e eu sempre fora de mão, eu tão desastrada com mãos de aranha, sempre de mãos a abanar com uma mão atrás e outra à frente a meter os pés pelas mãos. De mãos vazias, contudo de mãos limpas e braços abertos, sem levantar a mão contra ninguém.


- Também tenho duas mãos 

Provérbio provado rimado - MCCCLXI

Desconhecedor de um facto 

Que não soube antever 

O corno é como o chato 

Sempre o último a saber 



quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLX

Eu tendo ao isolamento 

Se sinto que não encaixo 

Fico então nesse momento 

Sozinha na mó de baixo 


Depois ninguém me atura 

E qualquer convite rejeito 

Sabendo que não é altura 

Para que me ponha a jeito 


Ficar assim solitária 

É tão má ideia afinal 

Logo eu que sou tão gregária 

É uma coisa paradoxal 


De mim própria tenho pena 

Suspeitando que até causo dó 

Para que tenha vida plena 

Terá de subir essa mó 



Provérbio provado rimado - MCCCLIX

Os ricos têm angústias 

Os pobres inquietações 

E se ambos as coleccionam 

Lá terão as suas razões 


Se acordam assim preocupados 

Com a ansiedade em alta 

Não interessa se há abundância 

Ou se ao invés faz falta 


Já que ninguém sabe o dia 

Que amanhã já virá 

E então a futurologia 

É o maior disparate que há 



terça-feira, 29 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLVIII

Não preciso de provar nada 
Nem de convencer ninguém 
Farta de ser copiada 
Vou implicar com alguém 

E então saiam da frente 
Que agressiva já me sinto 
Não me quedo indiferente 
Quando um plágio pressinto 

Se a caminho esbarrarem 
Com mais atitudes reles 
O melhor é me agarrarem 
Que senão eu vou-me a eles 


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLVII

Pensando que vinhas primeiro 
Deste-te todo por inteiro 
Mas foste mais um pretendente 
Que me deixou indiferente 

Eras tão melga e tão chato 
Mais parecias um carrapato 
Muito cola e com ar infeliz
Eu ficava sem ar no nariz 

Não podia jamais fazer nada 
Sem que fosse por ti questionada 
Em que é que estás a pensar?
Ora em nada em particular 

Era essa permanente questão 
Que me causava repulsão 
Ainda mais porque era precoce 
Imagina então se não fosse 

Creio que sabias afinal 
Tal apego não ser natural 
Por isso estavas preocupado 
Em poder pedir demasiado 

Dei-te então um chega pra lá 
Já que enfim paciência não há 
Aturar-te foi uma desgraça 
Por seres chato como a potassa 


Provérbio provado rimado - MCCCLVI

Se tu costumas mexer 

Apalpando a mercadoria 

Para assim poderes entender 

Se lhe darás primazia 


És como nuestros hermanos 

Quando querem algo constatar 

Podendo até causar danos 

Para ver têm de tocar 


Com os tendões tem cuidado 

E a compreensão sensitiva 

Pois talvez do outro lado 

Exista outra narrativa 


Que repara em quem apanha 

Com o peixe também os anzóis 

E lhe reconhece a manha 

De ver como os espanhóis 



Provérbio provado rimado - MCCCLV

Tu só sabes matar moscas 

Com a parte de trás das costas 

E inventas desculpas toscas 

Pois de trabalhar não gostas 


Passas o dia a roçar 

O cu gordo pelas esquinas 

E os tomates vais coçar 

Numa postura traquinas 


Assim revela-se impossível 

Achar que o teu ser promete 

Que o teu ar é impassível 

Julgas que tudo é um frete 



Provérbio provado rimado - MCCCLIV

Quem ama verdadeiramente 

Aceita o que lhe aparece 

Tal como existe a gente 

Já que toda a gente merece 


Cada um vive nesse lugar 

Que em vida andou construindo 

E de nada adianta negar 

Como o rumo foi evoluindo 


Pois a regra da aceitação 

É fácil e simples no fundo 

Basta ter dentro do coração 

Um despojamento profundo 


Tal como está embrulhado 

Deve receber-se um presente 

Dizem que a cavalo dado 

Não se deve olhar cada dente 



Provérbio provado rimado - MCCCLIII

Tu fala-me tiro a tiro 

De rajada não te percebo 

Que expliques bem eu prefiro 

Do que me limpes o sebo 


Não sejas assim agressivo 

Nem entres logo a matar 

Ou enfim esquecerei o motivo 

Que me faz te considerar 



Provérbio provado rimado - MCCCLII

Galinha que acompanha pato 

Acaba por morrer afogada 

É fácil de entender o facto 

Já que a galinha não nada 


Que a ave se quer rodear 

De outros animais talentosos 

Mas anda a apanhar do ar 

Do que ela são mais jeitosos 


Pois a dita galinha tem fama 

De não ser muito inteligente 

Responde quando alguém chama 

Logo vem piando contente 


Lá no fundo a pobre galinha 

Queria umas asas de jeito 

Mas fica bicando sozinha 

Num cacarejar contrafeito 



Provérbio provado rimado - MCCCLI

A sabedoria que tem 

Não serve a finalidade 

De contribuir com bondade 

Já que trama sempre alguém 


Não sei o que lhe perguntaram 

Nem sei com quem aprendeu 

Mas é certo que não mereceu 

Sabe mais do que lhe ensinaram 



Provérbio provado rimado - MCCCL

Sofreu um enorme calvário 

Num tormento doutrinário 

Levando às costas a cruz 

Tanto aguentou o Jesus 


E a grande dor que sofreu 

Nossa Senhora comoveu 

Pois nem ela naquele momento 

Sonhava um renascimento 


Com ladrões crucificado 

Pelo próprio Pai ignorado 

A fim de servir de lição 

A todo o que é cristão 


Foi preciso chamar um ferreiro 

Que chegou com o cangalheiro 

Para vários pregos apertar 

Não fossem eles se soltar 


O ferreiro que não era crente 

Não ficou no entanto indiferente 

Àquele homem de aura sagrada 

Com tamanho azar na jornada 


E até que surgisse o estertor 

Só para melhorar o humor 

Quis fazer-se de engraçadinho 

Largando um dito comezinho 


Então para quem quis ouvir 

Mandou esta laracha a seguir 

Com pregos Jota Baptista 

Não há Cristo que resista